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Destaques

TEMPERATURA GRANULAR

Por Paulo Rodrigues      Certo dia, um astrônomo ao ligar o rádio, se depara com o locutor narrando em tempo real a queda de temperatura naquela localidade: “Cinco graus Fahrenheit, quatro graus...três graus...”, diz o radialista atônito. E então, finalmente, ele anuncia: “se continuar assim, logo não sobrará mais nenhuma temperatura!”. ¹      Embora esse anedótico acontecimento demostre um grande desconhecimento sobre os princípios da termodinâmica, ele também nos traz à tona algumas questões interessantes relativas às escalas de temperatura. Muitos pesquisadores elaboraram suas próprias escalas, no entanto, atualmente as três mais importantes são: a escala Celsius, Fahrenheit e Kelvin. Enquanto as duas primeiras permitem números negativos (o que torna ainda mais injustificável a conclusão do locutor de rádio), a escala Kelvin é “adepta” ao conjunto ampliado dos números naturais, adotando a noção de zero absoluto. O Movimento Granular      I...

O canibalismo em dissemelhantes fisionomias: Do Frango ao Homem

Por Camila Paes Rabello de Oliveira. 

Embora remodelados, congêneres. 
Embora metamorfoseados, os mesmos. 
Embora transfigurados, iguais.




    A diferença entre nós e os humanos talvez seja o canibalismo. Se bem que eles possuem outras formas “predatórias”, não é? Claro, não me alimento de outros por espontaneidade. Não, óbvio que não. A condição apenas me é imposta, ao contrário ‘deles’ que se utilizam à bel prazer. A mudança do metabolismo, o estresse, impulsividade e, quando noto, mais um vai ao chão... Outra vez o ataque. Não estou falando de nós, frangos, me refiro à vocês, pseudo-predadores, os que acham que ocupam o topo da cadeia alimentar, mas que apenas se utilizam de mecanismos para se matarem, estabelecerem competições infundadas apenas para o atendimento de interesses particulares. Apenas ciscam grãos imaginários. Ora, que concepção é essa de que um pedaço de papel os estrutura? Tolos. Inventam histórias para se fundamentarem, mas não se ocupam da realidade, se acham superiores e, caso saiamos do que chamam de “senso moral”, nos punem. 

    Nossos instintos ao sermos subjugados, estresse e modificações nos fazem comermos uns aos outros, mas ‘eles’ negam nossa familiaridade nos atos. Chamam-nos de hierárquicos e territoriais, mas não observam a estrutura de sua sociedade, afinal, torna-se difícil analisar suas próprias imposições de convivência, da hierarquização pavimentada que mata diariamente muitos da própria espécie, que o ato de canibalismo apenas muda de nome, enquanto se massacram em suas gaiolas minúsculas que chamam de vida a partir de uma normatização fantasiosa, um mito social, que os difere das outras espécies. Se enganam e negam a si mesmos em nome de suas “concepções”. Negam-se até serem meros macacos. “Homo Sapiens”, dizem os seres que se julgam mais inteligentes. Se são considerados inteligentes apenas por serem macacos andando em seus pés, nós também devemos ser considerados, certo? Não, mesmo assim nos chamam de irracionais, apesar ‘deles’ viverem envoltos de seus misticismos e negações da própria condição. 

    Não enxergam em si a mesma natureza do “nós”. Enxergam desagrados e superioridade. Desagrados que em sua complexidade nada tem de diferença, se matam, se comem, se despedaçam. Mas negam. Não observam nem o tempo, nem o raiar do dia – do contrário, se condicionam a atender a um tempo inventado, não vivendo, apenas transcorrendo. Esta mera existência dos seres que me intrigam. Seres que andam ao redor de seus ciscos imaginários, cabisbaixos se entregam às condutas impostas, cumprindo funcionalidades disfuncionais. Seguem o curso de suas vidas miseráveis em função de uma lógica inventada. Nascem, crescem, morrem. Não aproveitam sequer o tempo. Ora, que tempo restaria a quem corre atrás de algo invisível, prendendo-se em gaiolas cada vez mais apertadas a fim de se encaixar? Que tempo restaria a quem persegue apenas o imaginário?

    Carcarejam incansavelmente “Não está bom”, “Não era isso”, “Não”, “Não” e “Não”. Carcarejam para que sejam atendidas, e se sobressaiam, às expectativas. Estão tão envoltos e cheios de si mesmos que não percebem o mundo. Não percebem que perseguem o Sol, quando não deveriam. Não lhes resta tempo. Este que é o mais essencial da vida, que não espera, só passa em breve companhia, não existindo em função de uma máquina. O tempo os come, lentamente se alimenta destes que acham que o condicionam. A individualidade destes seres. Estes que apenas usam o tempo a seus estranhos prazeres vãos. Não estamos, portanto, todos nos alimentando de nós mesmos?

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